A dimensão espiritual que mais vezes nos deixa insatisfeitos é a prática religiosa ou de fé. Sendo a parte vital do nosso relacionamento com o divino, falhar aqui é falhar em toda a linha. Podemos imitar uma práxis moral, social ou ritual, mas não poderemos nunca imitar algo de tão íntimo e real como um relacionamento com Deus – pelo menos naquilo que à nossa auto-consciência diz respeito.
Jesus aborda a questão da práxis religiosa (religiosa no sentido puro da palavra, que deriva do latim religio ou religare, significando re-ligação de um relacionamento que antes estava interrompido com Deus. Entende-se, portanto, a prática religiosa como o exercício do relacionamento pessoal com Deus.) e distancia-a dos rituais que, sendo importantes, não o são mais do que a vivência íntima do relacionamento com Deus que pressupõem. Há três expressões que Jesus utiliza que traduzem bem o espírito que deve estar por detrás da prática religiosa.
Segredo. A verdadeira expressão de Fé é pessoal, íntima e intransmissível. Deus vê em oculto. É, por isso, no oculto, leia-se no mais íntimo de nós, que começa este relacionamento. A aparência exterior pode ser fabricada e manipulada, mas a inclinação do nosso coração revela a verdade. Guardar a prática religiosa para o oculto ou segredo, não quer dizer que vivamos escondidos ou com vergonha, mas antes que, buscamos uma genuína intimidade com Deus.
Pai. Se o segredo fala de intimidade, a noção de Deus como Pai fala de familiaridade. Além do à-vontade e segurança para nos expormos emocionalmente que vem da intimidade, a familiaridade acrescenta a confiança de sabermos que do outro lado teremos sempre um retorno de amor incondicional, de acolhimento, encorajamento, protecção, providência, orientação e tudo o mais que um filho espera de um pai. É um relacionamento visceral que não pode ser anulado. Jesus afasta a ideia de um Deus distante, frio e indiferente e apresenta-nos o Pai, que devemos amar e considerar acima de todos – o filho tem no pai o seu maior herói – , e a quem recorremos quando precisamos do pão, do perdão, e da força para vencer.
Tesouro. Deus só está disponível em regime de exclusividade. Por um lado, devemos desejá-lo mais do que qualquer outro bem. Para nós Deus deve ser o mais excelente de todos e de tudo. O nosso tesouro. Por outro, devemos fugir do mal para que a comunhão não seja interrompida. Com Deus ou é tudo ou então nada.
Intimidade. Familiaridade. Exclusividade. Eis a práxis religiosa proposta por Jesus.
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