Olho para estes encontros em Cafarnaum como uma parábola viva da mensagem da montanha. Uma grande multidão desceu a montanha com Jesus. Imagino-a diferente daquela que Jesus deixou quando se retirou para o monte. Essa estava com Jesus por causa dos milagres. Esta seguia-O porque lhes tinha desafiado o espírito. É um erro pensarmos que a Palavra de Deus não é suficiente em si mesma para atrair pessoas a Cristo.
Há três encontros descritos no percurso até casa de Pedro. Com um leproso. Um soldado inimigo. Um familiar querido de um amigo. Em cada um deles há reflexos de Graça e de uma percepção correcta da Fé.
O leproso acerca-se de Jesus em busca de cura. A sua atitude revela as características dos bem-aventurados. A humilhação a que se dispôs ao expor-se perante todos é encorajada pela confiança que tem naquele que trata por Senhor. A autenticidade da sua fé percebe-se na adoração que precede o rogo, e na formulação do seu anseio. “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.” Este abandono total à vontade do Salvador, juntamente com a confiança férrea de que Ele tinha o poder de realizar a Sua vontade, desbloqueiam a benção. “Quero”, foi a resposta de Jesus. Quando pressupomos o mérito, ou quase exigimos como quem reivindica direitos, ficamos excluídos de receber aquilo que só vem pela Graça. Jesus enviou-o aos sacerdotes, para que cumprisse a lei. A verdadeira fé traduz-se sempre numa práxis legal, não como motivo para o encontro com Cristo, mas como consequência dele.
A fé conduziu também à inversão de papéis entre o centurião romano, a figura de autoridade, e Jesus, o não-cidadão que devia submissão a Roma. É quando agimos em sentido contrário à nossa natureza que encontramos o caminho da humildade, e da redenção. Este homem recebeu sem pedir. Enquanto falava da condição precária do seu servo, a cura estava já estendida por Jesus. “Não andeis ansiosos…” tinha Jesus ensinado na montanha. Deus, o Pai, sabe o que necessitamos. Mas, a maior prova de fé ainda estava por vir. Reconhecendo até ao limite a sua indignidade, o soldado impede Jesus de entrar em sua casa. Bastaria uma palavra. Creio que esta é a maior prova de fé – crer apenas pela Palavra, sem necessidade de manifestações exteriores. “Bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo.20:29)
Por último, a sogra de Pedro. Mais uma vez a cura vem sem pedido. O impulso natural de Cristo é trazer restauração onde o pecado opera destruição. Tocada pela Graça, a mulher ergue-se do seu leito e começa a servi-los. Que ilustração magnífica do que é ser sal e ser luz! A manifestação através das obras da justiça alcançada pela fé é a consequência natural naqueles que verdadeiramente foram reconciliados com Deus.
Uma multidão tornou a reunir-se em torno de Jesus. Enfermos. Endemoninhados. Todos buscando cura. Libertação. Enquanto a euforia se espalhava novamente pela turba, Jesus retira-se. Não lhe interessa a empatia de uma multidão obcecada com milagres. Imagino que a gestão que Jesus fazia dos seus poderes divinos seria muito difícil. Por um lado, o Criador compadece-se das dores a que sua criação ficou sujeita pelo pecado, e deseja anular esses efeitos. Por outro, sabe que esse não é o caminho da reconciliação. E, por isso, retrai-se, e tenta re-centrar a atenção do Homem naquilo que realmente o pode salvar – a Fé no Deus-Homem que veio dar a sua vida por resgate daqueles a quem tanto ama.
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E forte
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