Cristiano Ronaldo ou Leonel Messi? Sporting ou Benfica? Futebol europeu ou americano? Basebol ou basquete? WRC ou Fórmula 1? Al Pacino ou Sylvester Stallone? Haverá sempre adeptos de uns e de outros. Cada qual defensor acérrimo da glória do seu preferido e pronto a amesquinhar os feitos dos adversários.

A percepção da glória não é unânime. Isso pode parecer estranho uma vez que a glória está ligada a algo belo, majestoso, incrível, talentoso ou surpreendente. Creio que há pelos menos três factores que determinam a nossa diferente percepção da glória.

1. A sensibilidade pessoal.

Para alguém apreciador da natureza um colorido por-do-sol é uma visão gloriosa e incomparável. Nada satisfaz mais a sua alma. Mas, outro amigo mais dado à ciência e engenharia, encontra o mesmo êxtase estético ao contemplar um magnífico edifício que leva ao expoente máximo o engenho humano. Qual dos dois tem razão? Os dois. Há coisas que são naturalmente mais atrativas para nós do que outras. Mas, embora com maior inclinação para um ou outro cenário, perante uma visão gloriosa, todos reconhecem estar perante algo majestoso.

2. A falibilidade do objecto de glória.

Tão depressa somos elevados ao êxtase perante uma visão da glória – lembras-te do ciclista americano Lance Armstrong que venceu por 7 vezes consecutivas a Volta à França – como sucumbimos ao descobrir nela alguma falha – Armstrong perdeu os 7 títulos e foi banido do ciclismo mundial por ter usado dopagem para aumentar a sua performance.

3. A perversão do nosso coração.

Voltando à rivalidade entre Ronaldo e Messi. Quando os defensores de um e de outro debatem as virtudes do seu favorito normalmente falam do opositor de uma maneira como se não soubesse jogar à bola. “O quê? O Ronaldo? Ele só sabe correr e chutar em frente. O Messi é que é, parece que tem a bola colada aos pés.” O modo como reagimos revela o que está no nosso coração. Muitos rejeitam o Cristiano Ronaldo porque ele ostenta a sua riqueza. Tem boas casas, muitos carros, roupas luxuosas. Por isso não gostam dele. São capazes de ignorar todo o seu talento, os feitos desportivos, o trabalho esforçado que lhe é reconhecido por todos, apenas por algo que consideram uma falha no seu imaginário do que deve ser o melhor atleta. A real motivação para esta atitude é muitas vezes uma inveja encapotada, um orgulho ferido e um ressentimento contra aqueles que atingiram aquilo que não somos capazes.

Estes três factores não trabalham isoladamente, mas estão encadeados uns nos outros, explicando-se uns aos outros. Porque é que eu prefiro uma coisa em relação a outra? Porque vejo mais virtudes ou menos falhas nela. Porque é que eu exalto as falhas e ignoro os feitos incríveis? Por causa da inveja do meu coração.

Esta análise faz-nos entender um ponto importante sobre a percepção da glória. A percepção que temos de algo glorioso não depende tanto do objecto de glória mas do sujeito exposto a ela. Quer dizer, o por-do-sol é sempre glorioso em si mesmo, mas, a minha percepção dele torna-se subjectiva por causa do meu coração.

A resposta do Homem à glória de Deus

Vamos aplicar os conceitos anteriores à nossa relação com Deus. Todos reconhecemos que há uma grande diversidade de reacções do Homem perante Deus. Há os ateus, que na verdade são odiadores de Deus mais do que homens que não acreditam na Sua existência. Os agnósticos, que na realidade são homens que escolhem ignorar todas as evidências da divindade. E, depois, há os crentes. Aqui também encontramos um largo espectro de reacções. Há aqueles que dizendo-se crentes simplesmente ignoram completamente aquilo que Deus diz. Há os outros que torcem aquilo que Deus diz conforme a sua própria conveniência. E, há aqueles que reconhecendo a Glória de Deus entregam as suas vidas à exaltação do Seu Nome, pela obediência humilde à Sua vontade, satisfazendo as suas almas na comunhão com o Eterno.

Mas, porque é que reagimos de modo tão diferente perante Deus? Já consideramos que há alguns factores que interferem com a nossa percepção da glória. Mas, Deus é diferente – porque Ele é Santo. Dizer que Deus é Santo é dizer que nele não há subjectividade nenhuma. Ele é absoluto. Absolutamente perfeito. Absolutamente glorioso. Absolutamente desejável. Não podemos olhar para Deus – para as Suas obras ou palavras – e pensar: “Sim, isto é bom, mas se fosse diferente podia ser melhor.”  Por outro lado, dizer que Deus é Santo significa que nele não há falhas. Ele é perfeito, sempre fiel a Si mesmo, infalível, sem pecado, sem enganos. Mesmo quando manifesta atributos aparentemente contrários – Amor e Ira, por exemplo – não há nele nenhum fracasso. A Sua glória é incomparável. Ele é Santo.

A própria natureza de Deus elimina os dois primeiros factores que consideramos anteriormente. Não há absolutamente nada em Deus que possa tornar a nossa percepção dele subjectiva ou passível de críticas. Ou seja, perante Deus a nossa resposta natural deveria ser de total assombro pela Sua majestade e satisfação em conhecê-lo, adorá-lo e servi-lo. Mas, não é. Isso leva-nos a considerar o terceiro factor – o nosso coração.

coração duro

O coração humano – rebelde até ao âmago

Quando a Bíblia fala do coração refere-se ao nosso íntimo, à mente, à vontade, às paixões ou inclinações, os desejos e sentimentos, ao centro ou âmago de quem somos. Sobre o nosso coração diz:

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer? Jeremias 17:9

Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios,
a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez;
todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem. Marcos 7:21-24

Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamenteGênesis 6:5

Como é que um coração como este reage à manifestação da glória perfeita e absoluta de um Deus Santo? O texto de Romanos 1 ajuda-nos a entender. Vimos anteriormente (aqui) que a glória de Deus pode ser percebida em três níveis de revelação crescente:

  1. A Criação.
  2. A Palavra.
  3. A Santidade.

Nós reagimos a cada uma dessas revelações divinas. Diante da Criação não glorificamos a Deus, não Lhe damos graças, e mudamos a Sua glória incorruptível na semelhança do que é corruptível (vs.19-23). Mascaramos a nossa rebelião com o rótulo da ciência, mas aquilo que realmente não queremos fazer é reconhecer o Poder absoluto e a Soberania majestosa de um Criador que tem domínio sobre nós.

Conhecer a Palavra de Deus, que expressa a Sua vontade perfeita, boa e agradável (Rm.12:2), não desperta em nós melhor reacção. Trocamos a Verdade por mentira (vs.25). Perdemo-nos nos nossos próprios pensamentos (vs. 21 e 22) e chamamos-lhe Filosofia, Psicologia, Humanismo, Sociologia, Política. Tudo com o propósito final de roubarmos a glória que pertence a Deus para a colocarmos sobre nós (vs.25).

Como se essas tentativas de obliterar Deus dos nossos pensamentos não fossem suficientes, desenvolvemos um coração duro, insensível a Deus, uma consciência que abafa todo o Seu chamado, não nos importando com Ele, as Suas obras, Palavra ou Glória. Na nossa dormência ficámos indiferentes a Deus (vs.26). E, chamamos a isso Tolerância. Sob a capa do respeito mútuo silenciamos a Voz divina que nos chama à verdade (vs.32).

Resolução268 - resposta do Homem

O texto de Romanos continua descrevendo o nosso coração. Clamamos desesperadamente: “Não há Deus!” (Sl.14:1). Porque é que somos assim? De onde vem tanta revolta e raiva contra Deus? “Porque todos pecaram” (Rm.3:23) O pecado rouba-nos do gozo e satisfação na glória de Deus. O versículo continua e diz: “… e estão destituídos da glória de Deus” (Rm3:23) Por causa do pecado, a glória de Deus torna-se incómoda para mim. Eu não sou capaz de desfrutá-la ou de ser maravilhado por ela. Estou separado da doçura dessa Presença Santa, e só me resta uma certa expectativa de terror que me leva a afrontar Deus.

Mas, o texto expressa outra ideia. É que, porque sou pecador, aquilo que eu mais preciso é de ser inundado pela glória de Deus. A minha maior necessidade, aquilo que me curará do meu pecado é exactamente aquilo de que o meu pecado me afasta – Deus. Algumas versões traduzem o texto como “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Como resolver este dilema? Veremos isso no próximo artigo.

Como é que conhecer o meu coração muda a minha cosmovisão?

Deixo duas conclusões e desafio-vos a partilharem os vossos pensamentos nos comentários ou no Facebook.

  1. Tenho de vigiar constantemente sobre o meu coração porque na primeira oportunidade ele levar-me-à para longe de Deus. Embora eu tenha recebido um novo coração da parte de Deus que tem prazer na Sua glória, os resquícios da velha natureza irão assumir o controlo sempre que eu lhes der uma oportunidade. Por isso, devo testar todos os meus pensamentos, vontades, planos e atitudes pela Palavra de Deus, para que não me desvie dele seguindo após o meu próprio coração.
  2. Agora entendo porque tantas pessoas fazem escolhas erradas e contrárias à vontade de Deus. É a sua natureza. Eles são incapazes de fazer o Bem. O melhor que tenho a fazer não é pregar um Moralismo superficial que não transforma o coração, mas anunciar o Evangelho da glória de Deus que tem o poder de mudar corações e transformar vidas.
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