Um episódio de ontem à hora do jantar fez-me reflectir no quão egocêntricos temos tendência a ser, e quanto isso pode afastar-nos de Deus.

A sociedade pós-moderna em que vivemos leva o individualismo ao extremo e a idéia de que devemos buscar primeiro o que é melhor para nós e dar das sobras aos outros. Se estou bem comigo, está tudo bem. Se sou bem-sucedido, nada mais me importa. Se estou na fossa, o mundo inteiro deveria chorar comigo. Cria-se a noção de que as coisas devem girar à nossa volta, para cumprir os nossos interesses. E, quando isso não acontece, a primeira explicação que muitas vezes vem à mente é que haverá uma conspiração cósmica contra a nossa felicidade.

Ao iniciarmos a refeição tirámos um tempo para agradecer pelos alimentos. O J. disse resoluto que não queria orar. Falamos com ele tentando perceber as suas motivações, e explicando que Deus ficaria muito triste com aquela atitude. A explicação dele não podia ser mais simples:

“Jesus não vai nada ficar triste porque eu não quero orar, não quero, não quero.”

O seu pensamento simples de criança não prevê que a outra parte possa sair magoada, porque afinal ele não está a “fazer” nada de errado, simplesmente não tem vontade de fazer uma coisa. E, porque não tem vontade, então não faz e pronto. Problema resolvido.

Poderia elogiar a sua honestidade – coisa também rara nos dias que correm – mas, os pensamentos que me invadiram foram outros. Quanto mais olhamos para nós, menos sensíveis estamos à realidade espiritual à nossa volta. Lembrei-me do diálogo pungente entre Deus e o seu povo descrito no livro do profeta Malaquias. Deus está magoado com o povo. Com a sua rebeldia e obstinação. Com o desprezo com que o tratavam. Mas, sobretudo com a indiferença aos seus apelos. Perante o rol de acusações que Deus lhes faz, o povo sistematicamente responde:

“Em que nos tens amado?”                                        “Em que  nós temos deprezado o teu nome?”

“Em que te temos profanado?”         “Em que te enfadamos?”     “Em que havemos de tornar?”

“Em que te roubamos?”                  “Que temos falado contra ti?”

O egocentrismo torna-nos incapazes de reconhecer os nossos erros, e assumir as nossas necessidades. Sendo esses os primeiros passos para chegar a Deus, uma vida centrada em nós mesmos será irremediavelmente vivida longe dEle.

Advertisement