“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1:14)
Que testemunho! “Vimos a Sua glória“. Centenas de anos antes, Moisés pediu ao Senhor que lhe mostrasse a Sua glória. O que o Senhor lhe revelou na altura faz eco na encarnação do Filho de Deus.
O Senhor tinha libertado o seu povo da opressão e tirania a que estavam sujeitos no Egipto. Eram escravos, trabalhavam duramente, eram afligidos, e os seus bebés massacrados à nascença. Mas, o Senhor lembrou-se da sua aflição e mantendo-se fiel às suas promessas agiu poderosamente para resgatar os seus. Agora, eram peregrinos no deserto, caminhando rumo à terra prometida – o lugar que Deus tinha prometido ao patriarca Abraão, onde seriam uma benção para todas as nações da terra.
Antes de entrarem na terra que Deus lhes daria em herança, o Senhor faz o povo montar o arraial diante do monte Sinai, santificar-se, e chama Moisés a encontrar-se com ele no cume. Ali, Deus daria a Moisés os mandamentos, o resumo dos quais, em número de 10, inscritos em duas tábuas de pedra. Isso assinalava o início da Lei. Agora, qualquer homem ou mulher podia saber exactamente o que Deus requeria de si. O que era bom e o que era mau. O justo e o injusto. O que agrada a Deus e o que Ele abomina.
No relato de Êxodo, por duas vezes menciona-se a “glória de Deus”. Tão diferentes são as duas manifestações dela. Para o povo que estava acampado diante do Sinai, a glória de Deus era manifesta em trovões, relâmpagos, tremores de terra e fumaça (Ex. 19:18).
“E, subindo Moisés ao monte, a nuvem cobriu o monte.
E a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; e ao sétimo dia chamou a Moisés do meio da nuvem.
E o parecer da glória do Senhor era como um fogo consumidor no cume do monte, aos olhos dos filhos de Israel.” (Êxodo 24:15-17)
A visão era tão terrível que o povo tremia e, apesar da evidência da presença do Senhor que testemunhavam a cada dia, pediram a Arão que lhes fizesse um deus de ouro, um bezerro que pudessem adorar como aquele que os tirou da escravidão. Para os que rejeitam O que os adverte, o Senhor será sempre um fogo consumidor (Hb. 12:25-29). A visão da glória de Deus será sempre uma coisa terrível para o pecador impenitente. A ira do Senhor acendeu-se contra o povo por causa da sua abominação e, naquele dia, caíram três mil homens.
Moisés, que no monte intercede pelo povo para que o Senhor não os destrua totalmente, ao chegar ao arraial e testemunhar com os próprios olhos o pecado dos que dançavam nus diante do bezerro de ouro, parte as tábuas da Lei. A ofensa era tão grande que até um homem cheio de fraquezas como os demais sentiu a vergonha alheia da abominação. O Senhor, que atendeu à oração de Moisés, ordena que o povo siga caminho. Deus permanecerá fiel à promessa. Mas, de agora em diante, o Senhor não iria no meio deles para que não os consumisse na Sua santa ira (Ex. 33:3).
Moisés, homem que aprendeu a mansidão, humilde perante o Senhor ora: “Se tu mesmo não fores connosco, não nos faças subir daqui.” Para ele, mais importante do que a terra prometida era o Deus que cumpre promessas. E, o Senhor atendeu à sua oração. Então, Moisés faz a mais sublime de todas as orações “Rogo-te que me mostres a tua glória.” (Êxodo 33:18). Quero conhecer-Te mais, roga este homem, e, o Senhor atendeu à sua oração.
O pedido pode parecer surpreendente uma vez que Deus manifestava a Sua glória no monte que estava diante deles. Moisés também já tinha estado no cume com Deus a receber a Lei. O que mais pedia ele? Mais importante, o que mais poderia Deus mostrar a Moisés?
“Porém ele (o Senhor, nota minha) disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Êxodo 33:19)
Desta vez, Deus manifesta a sua glória em bondade, verdade e conhecimento, misericórdia e compaixão. Que diferença para o monte flamejante! À mente rebelde quase parece outro Deus, uma espécie de esquizofrenia divina. No entanto, quem mudou não foi o Senhor, mas, o homem que se apresentou diante dele.
“Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4:6)
“(…) revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (1 Pedro 5:5)
Todos os atributos de Deus conjugam-se harmoniosa, perfeita e permanentemente na expressão da Sua glória e Santidade. O Deus que se ira por causa do pecado é o mesmo que dá misericórdia ao contrito. O Deus que troveja para abater o soberbo é o mesmo que faz passar a bondade suavemente sobre o abatido.
Quando Deus enviou o Seu Filho ao mundo para salvar pecadores, mostrou aos homens a sua glória em “graça e verdade”. A mesma glória que manifestou a Moisés. Aquela que atrai a Si os abatidos, feridos e oprimidos para que encontrem descanso, paz, reconciliação e perdão, e consolação. Os homens altivos desprezam a figura terna do Salvador. Quem resiste à montanha ardente, não dá ouvidos à voz suave do Pastor. Mas, enganam-se aqueles que pensam que podem desprezar o Senhor para sempre. O Senhor que veio uma vez como servo humilde, voltará outra vez como Senhor dos Exércitos vitorioso para destruir, para sempre, na Sua ira santa todos os inimigos.