Leitura recomendada: Isaías 5
“Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito?” (Isaías 5:4)
Em 1598, Luís Vaz de Camões lançava um novo livro de poemas onde se inclui o soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”. Este belíssimo poema é uma dissertação sobre o Amor, os seus aparentes paradoxos e contradições e, os seus efeitos em quem o vive. A estrofe de abertura – Amor é fogo que arde sem se ver – é talvez a citação literária mais reconhecível do universo lusófono. Ela condensa em poucas palavras o ímpeto apaixonado dos amantes, a inquietação sofrida da paixão, e o romancismo dos amores secretos.
O amor divino descrito nas Escrituras não podia ser mais diferente. Imune às oscilações temperamentais do momento, amarrado ao carácter e natureza imutável de Deus ao invés da nossa atractividade e, anunciado às claras a todo o tempo, o amor divino manifestado aos homens enche as páginas das Escrituras desde o principio. A Criação bela e exuberante, o passeio com Adão e Eva na viração do dia, a promessa do Salvador no momento da Queda, a arca preparada antes do dilúvio, a eleição de Abraão, de Israel, a Lei, os profetas, os sacerdotes, a cada momento Deus prova o seu amor para com os homens.
A parábola da vinha ilustra esse Amor incessante de Deus. É por essa razão que a pergunta final é tão desarmante. “O que mais poderia eu fazer?” Deus inquire daqueles que desprezam o Seu amor que razões tinham para agir com tamanha rebelião. Em que medida é que Deus os defraudou em amor? O nosso pecado afigura-se mais odioso quando contrastado com o sublime amor de Deus.
O Senhor anuncia um castigo terrível que viria sobre o povo. Um imenso e incessante Amor requer uma justiça pela ofensa igualmente grande. Esse castigo veio. E foi terrível. Mas, não foi o fim. Séculos depois, Jesus retoma a parábola (Mt.21:33-42). Acrescenta pormenores, demonstrando como Deus não desistiu ao primeiro fracasso do povo. Nem ao segundo. Deus insiste em amar até ao fim. Por fim, envia o Seu Filho para trazer finalmente a ordem. Deus provou o Seu Amor ao enviar o Seu Filho para salvar pecadores. Agora não podem restar mais dúvidas sobre o amor que Deus tem por nós.
O que fazemos de Jesus Cristo torna-se assim a pedra angular sobre a qual o nosso destino eterno será determinado. “Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, E é maravilhoso aos nossos olhos?” (Mateus 21:42)