Jesus veio com um propósito. A sua missão estava definida desde a eternidade. As dificuldades que encontrou foram muitas. Logo no início do seu Evangelho, João diz-nos que Ele, a vida e luz dos homens veio a um mundo em trevas, mas não foi compreendido. Chegou ao mundo que Ele criou, mas não foi reconhecido. Veio aos seus, e estes não O receberam. (Jo.1:1-11) Ao longo da sua vida foram muitos os momentos em que teve de confrontar-se com a dureza da missão e com tentações descaradas e ás vezes subtis de soluções mais fáceis para atingir aparentemente o mesmo fim.
Vemo-lo num dia de festa, um casamento, rodeado de amigos e familiares. Um momento improvável para um teste. A sua mãe aproxima-se e segreda-lhe: “O vinho acabou”. Com alguma dureza Jesus responde: “Mulher, que tenho eu contigo? A minha hora ainda não é chegada!” Mas quando, seguramente movido pela pena aos noivos, transformou água em vinho, lemos que os seus discípulos creram nele.
Mais tarde, desviou-se do caminho habitual para se sentar na beira de um poço, na hora do calor mais duro, para se encontrar com alguém que precisava de ajuda. Conversou longamente com esta mulher samaritana, até que ela sai correndo de volta à cidade, chamando a todos e dizendo: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito: porventura não é este o Cristo?”
E muitos mais creram nEle por causa da sua palavra.
Quando um dia Jesus ensinava uma grande multidão, compadeceu-se deles e tomando alguns pães e peixes alimentou a todos até que ficassem satisfeitos. Entre a multidão ouvia-se: “Este é evidentemente o profeta que havia de vir ao mundo”. E queriam faze-lo rei. Quando no dia seguinte Jesus viu que ainda o seguiam disse-lhes: “Não me buscais pelos sinais que vistes, mas porque comestes e vos saciastes.” E muitos viraram costas e O abandonaram.
A notícia chegou deixando todos constrangidos. Um dos melhores amigos de Jesus tinha morrido. Lázaro estava morto. Jesus comoveu-se. Chorou. Mas quando se pôs diante do sepulcro onde o morto jazia há 4 dias e o chamou pelo nome, Lázaro saiu para fora. Muitos creram nele.
A novidade espalhou-se como fogo em terra seca, e quando Jesus chega a Jerusalém uma semana antes da Páscoa é recebido por uma multidão em êxtase, gritando e dançando nas ruas, trazendo folhas de palmeira e aclamando: “Bendito o rei de Israel, que vem em nome do Senhor”.
Na mente de todos ecoava uma certeza: MISSÃO CUMPRIDA! Na de todos, menos na de Jesus. Nada fazia prever que menos de uma semana depois Jesus se deixaria prender sem motivo, se submetesse a um julgamento ilegal, com acusações falsas, suportasse os castigos, o chicote, os murros, as cuspidelas, os insultos, as blasfémias, tomasse uma cruz que não era sua, e estivesse agora ali, no topo do Calvário suspenso entre o céu e a terra, desfigurado pela dor dos cravos e do chicote, e da ira do Pai.
Teria sido fácil para Jesus levantar multidões atrás de si. Era Ele que podia satisfazer todas as necessidades, falar ao mais profundo da alma, extinguir a fome no mundo, curar todas as doenças e até ressuscitar mortos. Ninguém lhe resistiria. Mas não foram esses problemas que Ele veio primariamente a resolver, mas um mais grave do que estes. O PECADO.
Jesus disse: “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum se perca. Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna” (Jo.6:38-40)
Quando muitos já desciam o monte cabisbaixos e derrotados, pensado que tudo estava acabado, Jesus há quase 6 horas na cruz, reúne as suas forças,e solta um brado que ressoa. O que Ele disse era improvável, estranho, e contra tudo o que se podia esperar: ESTÁ CONSUMADO! Este não foi um queixume derrotista nem um lamento. Não foi um: “está tudo acabado” “é o fim” “não posso mais”. Das 7 vezes que Jesus falou na cruz, apenas em duas ocasiões ele “clamou com alta voz”. Um destes gritos foi de desespero e abandono: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” O outro de absoluto triunfo: “Está consumado!” Os dois momentos decisivos: o suportar do castigo e a vitória! Estava tudo feito. A missão foi levada até ao fim. Não era preciso acrescentar mais nada. Todas as profecias a respeito do Messias estavam cumpridas. Está consumado. Todo o trabalho que o Pai lhe deu a fazer estava feito. Está consumado. A expiação pelos pecados realizada. Está consumado. A possibilidade de perdão eterno. Está consumado. O poder do pecado anulado. Está consumado. A morte vencida. Está consumado. Satanás derrotado para sempre. Está consumado. A vida eterna. Está consumado.
Muitos séculos antes Isaías, o profeta, escreveu a respeito do Cristo: “Quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. O trabalho da sua alma verá, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos: porque as iniquidades deles levará sobre si.” (Is.53:10-12)
Imagino Jesus exausto, no limite das suas forças. A separação do Pai era dor insuportável. E o castigo. Os cravos. Os insultos. A incompreensão. Mas perto do fim Ele ergue o seu olhar e vê mais além, onde só Ele podia ver. São muitas caras. De todas as tribos, povos, línguas e nações. Tantas que são uma multidão. Tantas que ninguém pode contá-las. Mas Ele conhece a todos pelo nome. Vê-me também a mim. E a ti. E ficou satisfeito.
E no limite daquilo que podia suportar, ergue-se sobre os cravos e solta o brado final: ESTÁ CONSUMADO!
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“E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas. E acharam a pedra revolvida do sepulcro. E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando elas muito perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois homens, com vestes resplandecentes. E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.
E lembraram-se das suas palavras.”