A Bíblia constantemente afirma os atributos perfeitos do carácter de Deus. A harmonização desses atributos, sem que um viole ou diminua o outro, é a expressão da Santidade de Deus. Amor. Justiça. Ira. Estes três são porventura os que parecem aos nossos olhos irreconciliáveis. Como pode um Deus de Amor condenar pessoas ao inferno? Se Deus é justo, como permite o sofrimento de pessoas inocentes? No entanto, a Bíblia afirma claramente a Justiça de Deus.

Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos.
Salmos 119:137

Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é.
Deuteronômio 32:4

Porque o Senhor é justo, e ama a justiça.
Salmos 11:7

A justiça e a rectidão de Deus.

Estes dois termos são frequentemente usados em conjunto, por vezes, com significado intermutável. Justiça é um termo legal, usado no sistema judicial, enquanto que rectidão significa conformidade a uma norma (lei ou regra) ou padrão. Tendo como ponto de partida estes conceitos podemos aplicá-los em diferentes situações.

  • Uma balança, ou medida é justa quando pesa ou mede como deve.
  • Uma conta é “recta” quando está de acordo com os princípios matemáticos.

A rectidão é a conformidade à norma que determina o que cada pessoa ou coisa deve ser.

Aplicando estes princípios a Deus, temos que a Justiça de Deus está ligada à Sua rectidão, ou seja, à Sua conformidade à norma. Qual é a norma? Ele mesmo, pois não há ninguém maior do que Ele (Hb.6:13)!

Deus é Justo porque no Seu procedimento não viola nenhuma lei, nem nenhum aspecto do Seu carácter. Ele é absolutamente recto!

Ao mesmo tempo, em relação a nós, Deus é Justo, porque não há nenhuma acção d’Ele que viole qualquer verdade ou mandamento estabelecido, nem nenhum código moral ou de justiça.

Podemos falar de um conceito absoluto de justiça – em relação a si mesmo, e de um conceito relativo – em relação a nós e ao resto da criação. Deus é Justo em Si mesmo (justiça absoluta), e em todo o procedimento para connosco (justiça relativa).

A pedra de tropeço

O problema que muitas vezes temos com o conceito da Justiça Divina é que na verdade não estamos a falar de rectidão. Vou dar um exemplo com uma situação que se passou com o meu irmão há algum tempo atrás.

Considero o meu irmão uma pessoa recta. Ele esforça-se genuinamente e com prazer em fazer aquilo que está certo. Um dia, teve que se dirigir à Urgência Hospitalar por causa de um problema de saúde da sua filha bebé. Quando chegaram ao hospital tiveram muita dificuldade em conseguir um lugar para estacionar o carro. Depois de umas quantas voltas, quase em desespero, ele resolveu parar o carro num lugar reservado a táxis, correndo em seguida para o atendimento. Assim que conseguiu tratar do atendimento, deixou a bebé com a mãe, e regressou para mudar o carro para um lugar permitido. A sua indignação subiu quando descobriu que tinha sido multado por estacionamento indevido! “Com tanta gente a fazer coisas piores, a polícia tinha logo que vir multar-me por 5 minutos de mau estacionamento.” Não é justo! – acrescentaríamos nós. Será que não?

Ficamos revoltados com a aparente “injustiça”. Uma injustiça que é mais um desejar que as coisas não fossem assim. Desejamos o bem, queremos felicidade. Não gostamos de ser contrariados, e, quando isso acontece logo clamamos por justiça! A minha resposta ao meu irmão foi talvez desconcertante num momento em que ele queria receber palmadinhas nas costas. “O lugar onde estacionaste era permitido?” Relutante, ele responde: “Não.” Foi feita justiça! O que o agente fez ao multar o meu irmão foi recto, ele agiu de acordo com as normas. Ele agiu com justiça. O meu irmão não gostou das consequências. Nós não ficamos contentes. Mas, a Justiça foi servida.

Vês que o nosso problema com Deus não é um problema de Justiça? Nós é que não gostamos das consequências do agir recto e justo de Deus sobre as nossas vidas. Deus age sendo fiel aos Seus atributos e carácter, lidando connosco de acordo com esses mesmos princípios eternos que Ele estabeleceu desde a eternidade.

A Justiça de Deus preserva a Integridade do Seu carácter Santo. Deus é Fiel a Si mesmo. Essa é a Sua Justiça. O nosso entendimento enviesado deste aspecto do Seu carácter pode levar-nos à rebelião contra Deus, e ao endurecimento dos corações. Mas, não esqueças que ao ser Justo, Deus é tão fiel à Sua Santidade e Ira como ao Seu Amor, Bondade e Misericórdia. Há esperança para o Homem na Justiça de Deus.

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