7 Palavras da Cruz :: João 19:25-27
É difícil imaginar o que sentiria Jesus nesta hora. Que turbilhão de sentimentos invadia o seu coração. Os acontecimentos precipitaram-se rapidamente. Há algumas horas atrás Ele estava à mesa com os discípulos, em comunhão suave. Mas, ao ser preso, todos O abandonaram. Ficou só nas mãos dos seus acusadores. Pedro ainda o seguiu de longe, apenas para O negar três vezes. O olhar que trocaram no Sinédrio não foi tanto de reprovação, mas de tristeza e coração partido. Estava só, todos O abandonaram.
Depois, uma noite de julgamento carregado de mentiras e falsas acusações. De escárnio. De violência. Murros. Bofetadas. Cuspidelas. Açoites. Humilhação sobre humilhação. E, Ele sofreu em silêncio. E, só. Todos O abandonaram. Pela manhã, desfigurado pela violência animal a que foi sujeito, foi forçado a carregar uma cruz que não era Sua. Ao percorrer as ruas de Jerusalém, a multidão eufórica acotovelava-se para O ver. As mulheres gritavam e choravam. Outros cuspiam-Lhe. Insultavam-nO. Creio que escondidos nessa massa amorfa de gente estavam os discípulos. Incógnitos. Medrosos. Espreitando entre as cabeças. Ele, no entanto, caminhava dolorosamente só. Todos O abandonaram.
Chegado ao alto do Calvário, o lugar da Caveira, lugar de morte e vergonha, foi suspenso naquela cruz maldita. No meio da dor ainda foi capaz de estender perdão, promessas de Paraíso. Mas, ali, naquela cruz do meio, estava o lugar mais solitário de todos. É então que tudo muda.
Espreitando pelos olhos semicerrados pelos murros e pelo sangue que escorria da Sua fronte, Ele vê-os. Quatro mulheres. Um discípulo. Aquele que Ele amava. Posso somente imaginar o conforto que Jesus terá sentido naquela hora. Afinal, não estava só. O Amor tinha-os atraído a Si. O Amor venceu as barreiras do medo, da vergonha, do sofrimento. Nasce a comunhão!
“Mulher, eis aí o teu filho.”
“Eis aí a tua mãe.” (João 19:26,27)
Jesus reúne forças para fazer um estranho pedido. Os seus irmãos poderiam cuidar da Sua mãe. Talvez até ficassem incomodados com esta vontade final de Jesus. Mas, Ele celebrava outra coisa. Celebrava o triunfo da comunhão sobre a vergonha, o medo e a dor da cruz. O Amor incondicional de Cristo levou-O a oferecer-Se como sacrifício pelos pecadores. O Amor conduziu-O ao sofrimento. Mas, o sofrimento não era a palavra final. A cruz não era o fim, e sim o começo! O começo de uma nova era. Jesus, não queria que na mente de Maria, de João e dos outros ficasse a imagem de ignomínia da Cruz. A Cruz era triunfo. Ali nascia a comunhão perfeita. O Amor que vence todas as barreiras. “Fiquem juntos”, disse Jesus. O Amor manifestado entre eles seria a preservação da comunhão. Comunhão entre eles. Comunhão com Cristo.
“Desde essa hora, o discípulo a tomou em sua casa.” (Jo.19:27)
A obediência de João preserva a comunhão nascida na cruz, e produz fruto. A comunhão sempre produz fruto. Imagino estas duas pessoas – as mais próximas de Jesus – em casa – a mesma casa – recebendo amigos, vizinhos, e estranhos e a falarem-lhes de Jesus. Da Cruz. Da Ressurreição! Do Amor. Dos sofrimentos. Da comunhão.
“Junto à cruz…” ´e lugar de comunhão. De afectos. De Amor provado. É um lugar difícil. De negação pessoal. De risco. Mas, maravilhosamente, já não é lugar de vergonha, de morte, incompreensão ou fracasso. É lugar de vitória! Vitória do Amor que está disposto a morrer em favor daqueles que Ama para ganhar uma comunhão que não pode ser anulada, diminuída ou destruída, e que dá fruto agradável a Deus.
E tu, onde estás?