Ontem, um senhor dos seus 60 anos, intrometeu-se na conversa que eu e a S. travávamos no comboio. Ele estava sentado no lugar à nossa frente e não podia evitar escutar o que dizíamos. Interrompeu-nos para nos dizer que também gostava muito de andar de comboio. Aliás, era o seu transporte de eleição há muito tempo. O que mais gostava, dizia ele, era a paz. Poder sentar-se e relaxar, deixando-se embalar pela condução tranquila do maquinista – a quem teceu muitos elogios – não tinha preço. Era definitivamente um momento alto do dia.
Enquanto ele falava, impressionou-me a maneira embevecida com que discorria sobre um assunto tão banal. Surpreendia-me sobretudo pela figura que tinha diante de mim. Um homem bem-apessoado, com o seu fato e gravata, cabelo já grisalho e barba aprumada. Na voz, confiança, no olhar, tranquilidade. Não esperava isto. Alguém que na maturidade da vida já aprendeu que a maior felicidade não está nas riquezas materiais que possuímos, mas, nas “espirituais”, impalpáveis, sem preço, com que Deus nos surpreende a cada passo. Bem-aja, caro senhor, por nos ter relembrado tão importante lição.
“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” Lucas 12:15