“O problema do sofrimento é a mais potente arma do ateísmo contra a fé cristã.” (C.S.Lewis)

Não posso deixar de concordar com C.S.Lewis. A questão do sofrimento humano é aquela que é mais vezes levantada para justificar a descrença de Deus. Ela é normalmente colocada nestes termos:

Se Deus é Todo-Poderoso, e realmente Ama o Homem, porque é que Ele não impede as guerras, a fome, as doenças e o sofrimento humano?

Nesta reclamação contra Deus está escondida uma acusação à Sua Justiça – ou seja, à Sua fidelidade a Si próprio:

  • Se Deus é Todo-Poderoso e não faz nada em relação ao sofrimento humano é porque não se importa, e não é Amor.
  • Se Ele realmente se importa e nos Ama, e não faz nada, é porque não pode fazer nada, logo não é Todo-Poderoso.

Este aparente paradoxo parece lançar o golpe final na natureza e carácter de Deus, e justificar o espírito ateísta que diz que Deus está morto!

A razão porque esta questão é tão importante é que ela é muito próxima de nós. Não é um conceito teológico distante mas, algo que toca as nossas vidas, de todos nós. Todos sofremos de uma maneira ou de outra. A perda de um ente querido. Uma doença. Uma angústia da alma. Uma injustiça. Sofremos com o sofrimento dos outros. Com as imagens da Fome. Da Guerra.

Quando o sofrimento vem sobre alguém mau, encontramos nisso um certo sentido de justiça poética. Mas, quando vemos sofrer alguém bom isso deixa-nos revoltados e perplexos. Se somos nós a sofrer, ou alguém que nos é querido, estamos a um passo de levantar dedos acusadores a Deus. Quando são os inocentes, como crianças, então toda a nossa raiva contra Deus explode.

Não tenho uma resposta ou explicação definitiva para a questão do sofrimento. Mas, encontro em Deus os fundamentos para uma fé que me permite olhar para o problema com esperança. Eis em 4 pontos o que creio biblicamente sobre o assunto:

1. Deus É.

A questão: “Se Deus é…” parte de uma premissa errada que inquina todo o raciocínio que se segue. Ao abordarmos o problema desta maneira colocamos Deus no banco dos réus e avaliamo-l’O pelos nossos próprios padrões. Mas, quem nos nomeou juízes morais do Universo? Não somos capazes de concordar em coisas tão simples como: qual a cor mais bonita, ou o melhor prato de comida; debatemos qual é o melhor sistema político; discordamos nas preferências clubísticas, mas, de repente, estamos perfeitamente habilitados para determinar com toda a confiança o que é bom, justo e amoroso. Basta olharmos para a História e perceber que esse padrão estabelecido pelo Homem tem variado muito ao longo dos séculos.

A Bíblia afirma que Deus É. “Eu Sou o que Sou”, disse Deus a Moisés (Ex.3:13-14). Deus é Bom. Deus é Amor. Deus é Todo-Poderoso. Deus é Justo. Ele não muda. Ele é o padrão pelo qual todas as coisas serão julgadas. Não é a minha avaliação ou percepção que estabelecem o carácter de Deus. Se Deus castiga com sofrimento um mau, Deus é Bom  e Justo. Se Deus deixa o bom sofrer, é mesquinho e cruel. Deus É, e o Seu carácter Santo manifesta-se em tudo o que faz.

Por tudo isto, uma melhor pergunta é:

  • Deus é Bom. Como entender o meu sofrimento?
  • Deus é Amor. O que é que Ele me quer ensinar neste momento difícil?
  • Deus é Todo-Poderoso. Se Ele não afasta de mim esta aflição, por onde é que me está a conduzir?

Ao trazermos o foco sobre nós, com confiança no carácter de Deus, estaremos mais perto de O conhecer, e de experimentar o Seu consolo.

2. A raiz do sofrimento é o pecado.

O sofrimento humano começa no Éden, depois do pecado. Depois da Queda,  Deus disse a Adão que teria que trabalhar duramente para ganhar o seu sustento, e a Eva disse que com dor daria à luz filhos (Gn.3:16-19). A dor. O sofrimento. A doença. O envelhecimento. A morte. Todos entraram pelo pecado. A Bíblia diz que toda a criação geme ansiando a redenção – a consumação da salvação, e o Reino triunfal de Deus (Rm.8:22).

Muito – talvez a esmagadora maioria – do sofrimento humano é causado pelo próprio Homem.

Há Fome. Deus, na Sua Graça, dá provisão para todos. O planeta produz alimento suficiente para todos os Homens. Por que há fome? Porque há países – leia-se homens – que preferem destruir comida para manter o seu estatuto e poderio, do que partilhá-la com os pobres.

Há Guerra. Deus renova a Sua misericórdia a cada manhã. Faz chover sobre justos e injustos. Dá capacidade e inteligência ao Homem. E o que fazemos com isso? Tornamo-nos arrogantes, pretenciosos, facciosos e odiosos. Matamos para afirmar o nosso poder. Guerreamos para dominar sobre os fracos. Esquecemo-nos que somos pó.

Se, nós, Homens, usamos a Graça e Misericórdia de Deus como oportunidade para dar lugar ao pecado, de que lado está a falha moral? É Deus culpado da nossa obstinação?

3. Deus é Soberano no meu sofrimento.

Quando Adão e Eva pecaram expondo as suas vidas ao sofrimento, Deus usou de misericórdia pondo um anjo de guarda a uma outra árvore do Jardim, a Árvore da Vida. Deus não queria que eles comessem dela e vivessem para sempre no seu pecado. Agora, por intermédio de Jesus Cristo, tendo sido perdoados de todo o pecado, podemos ter acesso à Árvore da Vida, e comer dela livremente. (Gn.3:23-24)

Jó é descrito pelo próprio Deus como sendo justo e íntegro. (Jó1:8) No entanto, Deus permitiu que Satanás lhe tirasse tudo menos a vida (Jó2:3-7). Perdeu fortuna. Filhos. Saúde. Teve a incompreensão dos amigos. O escárnio da esposa. O abandono – ou, o sentimento de abandono – de Deus. Jó é apresentado na Bíblia como o expoente máximo de sofrimento que algum homem pode experimentar. Em tudo, Deus esteve no controlo. No fim, Satanás foi envergonhado. Os amigos foram envergonhados. A esposa. Jó. Mas, Deus foi glorificado. E, na glória de Deus Jó foi abençoado. Com saúde. Com filhos. Com fortuna. Com conhecimento do Santo e uma esperança firme: “Eu sei que o meu Redentor vive! Agora os meus olhos te vêem.” (Jó 19:25; Jó 42:5)

O apóstolo Paulo recebeu um espinho na carne que muito o afligia. Orou fervorosamente e insistentemente ao Senhor por libertação, mas, a resposta foi: “Não!” Por que é que Deus não tirou o sofrimento de um dos Seus maiores servos de todos os tempos? Por Deus tinha algo melhor em mente: “A minha Graça te basta. O meu poder aperfeiçoa-se na tua fraqueza.” (2 Coríntios 12:9)

Certo dia, Jesus e os discípulos encontraram um homem cego de nascença. A pergunta, a mesma pergunta, perturbadora, logo surgiu: “Quem pecou? Ele ou os seus pais, para que nascesse cego?” A resposta de Jesus veio cheia de Esperança para o cego e para nós: “Nasceu assim para a glória de Deus!” (João 9:3)

De um modo que não compreendemos bem, Deus é glorificado, ou seja, as Suas perfeições são exaltadas, mesmo no nosso sofrimento. Por vezes, é fácil entendermos isso, como no caso deste cego que foi curado. Mas, Ele também é glorificado e perfeito no caso de Paulo que não recebeu a cura.

O sofrimento só é destrutivo quando suportado longe de Deus. Quando O conhecemos experimentamos o Seu Amor, Bondade, Poder, mesmo se a cura não vem.

Convido-te a conhecer a história de duas pessoas que, no nosso tempo, são o exemplo vivo daquilo que acabo de dizer: Joni Eareckson Tada e Nick Vujicic.

4. Deus entende o meu sofrimento.

Para mim, esta é a verdade mais consoladora de todas. Porque traz Deus para perto de mim. Ele não está lá no longínquo Céu, indiferente ou incapaz de entender a minha condição. Ele sabe. Ele entende. Porque Ele veio.

Vamos falar de sofrimento? Jesus, o Filho de Deus, nasceu num estábulo. A sua primeira cama foi uma manjedoura. Pobreza. Humilhação. Não havia outro lugar para Ele. Em criança viveu como refugiado no Egipto. A Sua família terrena era humilde. Cedo trabalhou para ajudar no sustento da casa. Perdeu o pai, José, ainda muito jovem. Luto. Dor. Quando começou o seu ministério foi rejeitado pelos seus próprios irmãos. A sua cidade não O acolheu. Rejeição. Indiferença. Ao longo dos três anos em que percorreu a Judeia foi insultado, expulso de cidades, tentaram apedrejá-lo, quiseram prendê-lo por várias vezes. Muitos seguiam-no por interesse. Perdeu um dos seus melhores amigos, Lázaro, a quem ressuscitou. Luto. Dor. Choro. Foi traído por um dos seus discípulos. Abandonado por todos os outros. Negado por Pedro. Julgado injustamente. Condenado. Esmurrado. Cuspido. Chicoteado. Carregou uma cruz até ao cimo do Calvário. Foi pendurado nela durante 6 horas. Morreu.

Ele entende. Em Jesus Cristo temos um Sumo-Sacerdote – um mediador entre nós e Deus – que pode compadecer-se de nós, porque foi experimentado nas mesmas dores. E, saiu sobre elas vitorioso! Ele compadece-se de ti. (Hebreus 4:15; Hebreus 5:5-8)

Nos diferentes encontros que Jesus teve com diferentes pessoas, com diferentes problemas, a expressão que se repete que explica a atitude d’Ele é: “moveu-se de compaixão”. A compaixão de Jesus levou-O a dar vista ao cego, a curar o paralítico, a libertar os oprimidos, a sarar os leprosos, a ressuscitar o filho da viúva pobre, a ressuscitar Lázaro, e a operar um sem número de milagres que aliviaram o sofrimento de muitos. Hoje, Ele ainda se move de compaixão em favor de ti.

Por que razão Ele não cura e alivia o sofrimento de todos os que sofrem, mas só de alguns? Não sei. Mas, sei que Ele entende, e se compadece, e que, se não cura é porque tem algo melhor reservado para a Sua Glória.

Nos momentos de sofrimento quero trazer à memória aquilo que me dá esperança. Que,

O meu Redentor Vive, e por fim, se levantará sobre a Terra. (Jó 19:25)

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